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A princesa e a ervilha - Hans Christian Andersen

  Era uma vez um príncipe que queria casar com uma princesa, mas com uma princesa autêntica. Viajou, assim, por todo o mundo à procura duma que o fosse realmente, mas em todas que encontrou descobria sempre alguma coisa que não lhe agradava. Princesas havia muitas; mas quanto a considerá-las autênticas, não fora capaz de decidir. Havia sempre algo que não era duma princesa genuína. Regressou assim à pátria muito triste, pois desejava ardentemente casar com uma verdadeira princesa. Uma noite, estalou uma tremenda tempestade.   Relampejava e trovejava, e caía chuva que Deus a dava! Fazia um tempo terrível! Então, bateu alguém à porta do castelo e o velho rei veio abri-la. Era uma princesa que estava lá fora. Mas, Santo Deus, em que estado a tinham posto a chuva e o mau tempo! A água escorria-lhe dos cabelos, do vestido e do nariz sobre os sapatos, que a vertiam por todos os lados. Era uma verdadeira princesa, declarou ela.   “Está bem, em breve o saberemos”, pensou a rainha velh

O Rapto da Princesa Europa

     Europa era uma linda princesa fenícia.  Como ainda não chegara à idade de casar, vivia com os pais num magnífico palácio e tinha por hábito dar longos passeios com as amigas nos prados e nos bosques.  Certo dia quando apanhava flores junto da foz de um rio foi avistada por Zeus (o deus supremo) que se debruçava lá do Olimpo observando os mortais.  Fascinado com tanta formosura, decidiu raptá-la.  Para evitar a fúria da sua ciumentíssima mulher, quis disfarçar-se.  Nada mais fácil para quem tem poderes sobrenaturais!  Tomou a forma de um touro. Um belo touro castanho com um círculo prateado a enfeitar a testa.  Desceu então ao prado e deitou-se aos pés da Europa. Ela ficou encantada por ver ali um animal tão manso, de pelo sedoso e olhar meigo.  Primeiro afagou-o, depois sentou-se-lhe no dorso e... o touro disparou de imediato a voar por cima do oceano.  A pobre princesa ficou assustadíssima. Mas não tardou a perceber que o raptor só podia ser um deus disfarçado, pois entre as onda

Tudo ao contrário - Luísa Ducla Soares

 O menino do contra queria tudo ao contrário: deitava os fatos na cama e dormia no armário. Das cascas dos ovos  fazia uma omelete; para tomar banho  usava a retrete. andava, corria de pernas para o ar; se estava contente  punha-se a chorar. Molhava-se ao sol secava na chuva e em cada pé usava uma luva. escrevia no lápis com um papel; achava salgado  o sabor do mel. No dia dos anos  teve dois presentes: um pente com velas e  um bolo com dentes.                                                            Luísa Ducla Soares in  Poemas da Mentira e da Verdade

A minha casinha - Luísa Ducla Soares

Fiz uma casinha de chocolate, tapei-a por cima  com um tomate. Pus-lhe uma janela de rebuçado e mais uma porta de pão torrado. Pus-lhe um chupa-chupa na chaminé; a fazer de neve, açúcar pilé. A minha casinha bem saborosa... comi-a ao almoço. Sou tão gulosa! Luísa Ducla Soares in  Poemas da Mentira e da Verdade

A Menina Azul - Luísa Ducla Soares

A Menina Azul é fresca como um azulejo e tem lagos nos olhos. A menina azul é a fada que pintou o céu. A menina azul é a água-marinha dum anel. A menina azul quando se zanga fica azul escura e quando ri tão clara como um regato. A menina azul tem sonhos azuis como peixes ondulantes. A menina azul tem sangue azul como tinta de escrever. A menina azul é uma princesa de tule que dança os tons do azul, azul, azul... Luísa Ducla Soares in Poemas da Mentira e da Verdade

Romance das dez meninas casadoiras - Luísa Ducla Soares

São dez as meninas e sobre elas chove, mas chega um bombeiro e ficam só nove. São nove meninas comendo biscoito mas chega um padeiro e ficam só oito. São oito meninas fazendo uma omelete mas chega um guloso e ficam só sete. São sete meninas pintando papéis mas chega um pintor e ficam só seis. São seis as meninas à volta de um brinco mas chega um ourives e ficam só cinco. São cinco meninas que vão ao teatro mas chega um actor e ficam só quatro. São quatro meninas falando francês mas chega um estrangeiro e ficam só três. São três as meninas guardando peruas mas chega um pastor e ficam só duas. São duas meninas nadando na espuma mas chega um barqueiro e fica só uma. É uma menina a apanhar caruma mas chega um leão, não fica nenhuma. Luísa Ducla Soares, in Poemas da Mentira e da Verdade

Os números do menino guloso - Luísa Ducla Soares

Dá-me bolinhos  mas não só um.  Desde o almoço  faço jejum.  Dá-me bolinhos  mas não só dois.  Como um agora  outro depois.  Dá-me bolinhos  mas não só três,  que os vou papar  duma só vez.  Dá-me bolinhos  mas não só quatro,  para os provar  logo no quarto.  Dá-me bolinhos  mas não só cinco.  Com tanta fome  eu bem os trinco.  Dá-me bolinhos  mas não só seis,  todos maiores  que bolos reis.  Luísa Ducla Soares in Poemas da Mentira e da Verdade , Livros Horizonte